Este é um blog sobre direitos animais e veganismo, abordados a partir da experiência de quem não sabia quase nada a respeito até o dia em que.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Fulano, Beltrano e um jantar sem opções

"Opção" é uma palavra fácil da gente usar e fácil também de nos levar a meios-entendimentos. É, em princípio, bacana: implica o reconhecimento da autonomia do sujeito que opta; é democrática, igualitária, respeitosa, relativista, não-sectária... o optante é o fiel de sua própria balança, cheio de poder decisório, autor definitivo de sua história. Entre o roxo e o amarelo, hoje fico com o roxo; se amanhã quiser mudar, quem decide sou eu e apenas eu, pois não cabe nem ao roxo nem ao amarelo optar por mim.
Mas nem todo comportamento, nem toda ação é fruto de opção. Ser honesto, por exemplo, não é exatamente a outra opção possível a ser desonesto: é mais correto dizer que nós não roubamos justamente porque roubar não nos parece ser uma opção. Aqui o fiel da balança não é o sujeito optante, mas um valor ético que o próprio sujeito reconhece como superior ao seu poder individual de escolha.
Analogamente, ser vegano não é exatamente uma opção, mas os não-veganos podem muito bem enxergar nesse sujeito um exercício de "opção vegana", e terão toda razão de se sentirem bacanas, respeitosos e democráticos ao acharem aceitável que, entre o bife e a rúcula, Fulano prefira a rúcula. Mas isso é pouco, e não esclarece sobre o que de fato ocorre "entre o bife e a rúcula" na percepção de Fulano. Cabe aos veganos deixarmos clara a desimportância intrínseca das nossas escolhas quanto ao que comer ou usar, pois são secundárias em relação a um sentido que reconhecemos como maior que nossas opções individuais (nesse caso, o entendimento dos animais como sujeitos de direito). Opção vegana "de verdade" é entre a abobrinha e a rúcula, e o que resulta disso, convenhamos, não tem tanta importância assim. É por causa do reconhecimento desse sentido maior que não podemos retribuir do mesmo jeito a atitude bacana, respeitosa e democrática à – essa sim – opção do Beltrano que escolhe o bife. São hierarquias distintas sentadas à mesma mesa, e querer conciliá-las sob um mesmo discurso simplesmente não funciona. É melhor abrir mais um vinho e conversar diretamente sobre as diferentes fundamentações e conseqüências de cada hierarquia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Good brief and this enter helped me alot in my college assignement. Thank you for your information.