Este é um blog sobre direitos animais e veganismo, abordados a partir da experiência de quem não sabia quase nada a respeito até o dia em que.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A ficha



Foi assim: recebi um e-mail da Naza convidando para assistir ao documentário Terráqueos (Earthlings), do diretor Shaun Monson, no auditório do Banco Central, no fim de outubro de 2006. O convite mencionava que o assunto era a dependência dos humanos em relação aos animais e o conseqüente desrespeito que cometemos com eles. Fiquei interessado imediatamente, mas não pude ir, e acabei assistindo depois, junto com o Felipe. De saída a trilha do Moby dá o clima, e aí começam as imagens e a narração do Joaquin Phoenix, encadeando sistematicamente cinco aspectos dessa relação de dependência e desrespeito: o uso de animais para companhia, alimentação, vestuário, entretenimento e pesquisa científica.

O filme – muito bem realizado – é doloroso de se assistir, pra dizer apenas o óbvio, mas é precisamente esse exercício que o torna fundamental e potencialmente transformador: é sempre bom a gente ver as conseqüências do que faz, até o fim. E nesse caso isso dói, especialmente porque não há uma cena no documentário que não seja, de alguma forma, já conhecida ou, pelo menos, intuída. Ainda que eu não soubesse que uma vaca leiteira vivendo em regime de confinamento tem sua expectativa de vida reduzida de 20 para quatro anos, bastaria em algum momento ter dedicado um segundo a mais pensando na origem do queijo ingerido diariamente para chegar à conclusão de que a vaca invisível e anterior ao queijo na embalagem talvez não estivesse vivendo a vida a que tinha direito (independentemente de estar confinada ou ser uma "vaca feliz" do sítio mais natureba e bonzinho da feira ecológica do Bom Fim).
Um segundo a mais. É esse tempo, que abre espaço para que a gente veja além do hábito cego cotidiano, que o filme propicia. Quase nada, afinal. E aí a ficha caiu: é por esse quase nada que bilhões – isso mesmo, bilhões – de animais são torturados e depois mortos a cada ano, porque tem sempre alguém exatamente como eu, prestando atenção ao queijo na embalagem sem lembrar, nem por um segundo, de uma única vaca sequer.

[ segundo o site oficial, o download do filme não está mais liberado pelo diretor (as razões ele explica aqui), e agora há uma versão estendida do DVD com legendas em inglês, francês, espanhol e português (resta descobrir se já há distribuição no Brasil); de qualquer maneira o documentário segue postado no YouTube, onde pode ser encontrado organizado em partes através de links disponibilizados pelo GAE, aqui ]

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